A acupuntura está livre do estigma que a cercou no
Ocidente: o de terapia alternativa apenas para o alívio das dores.
Reconhecida como especialidade médica, as agulhas já são usadas com eficácia no tratamento de
inúmeros males - de hipertensão e diabetes até demências e câncer.
A ACUPUNTURA BUSCA TRATAR O PACIENTE COMO UM TODO E NÃO COMO UM SER DIVIDIDO EM PEDACINHOS
Provar que o toque das agulhas é capaz de excitar as células
nervosas da pele, atingir o Sistema Nervoso Central (SNC) e estimular o
cérebro a produzir analgésicos e antiinflamatórios naturais foi fácil.
Afinal, o princípio é muito semelhante ao da massagem (com agulhadas no
lugar do vaivém das mãos) e favorece a liberação de substâncias capazes
de aliviar as tensões musculares, as dores e de promover o bem-estar
geral. Basta uma sessão de acupuntura, aliás, para atestar esse
benefício na prática.
O problema foi convencer pacientes e médicos, especialmente os
do Ocidente, de que a técnica nascida há 5 mil anos na China era capaz
de fazer muito mais pela saúde: como reduzir a pressão arterial,
equilibrar os níveis de glicemia no sangue, afastar as crises de asma,
controlar os sintomas da esquizofrenia, dar uma forcinha para a memória e
até conter a ejaculação precoce. Não é à toa.
A medicina chinesa enxerga o corpo de uma forma muito diferente
dos ocidentais. Imagine o organismo humano como um televisor: enquanto o
Ocidente se especializou na manutenção do aparelho e na substituição de
peças avariadas, os orientais sempre olharam com atenção a energia que
move o mecanismo. Para eles, corrente regulada significa aparelho
funcionando bem. Já uma rede com níveis baixos ou elevados de energia
fazem o aparelho funcionar mal.
Deste lado do hemisfério, os males são associados a vírus,
bactérias, proliferação de células doentes e os tratamentos costumam ser
pontuais e cada vez mais específicos. Enquanto que para os orientais,
as doenças são desencadeadas por um desequilíbrio energético, a
acupuntura atuaria em pontos certos do corpo para desbloquear o fluxo de
energia e manter o organismo funcionando em harmonia. Filosofias e
princípios à parte, na tentativa de traduzir a teoria da energia vital
para uma explicação menos mística e mais fisiológica e científica, o
Ocidente passou a financiar pesquisas para comprovar a eficácia da
técnica e, finalmente, descobriu e aceitou o seu poder terapêutico.
Resultado: a acupuntura deixou o limbo das práticas alternativas e
passou a integrar o Olimpo da ciência contemporânea. Ainda não se
consegue esclarecer por completo quais os mecanismos acionados pelas
agulhas que possibilitam o alívio ou a cura dos sintomas das doenças não
necessariamente ligadas à dor. Mas que a técnica funciona ninguém mais
duvida.
Aval científico
A acupuntura vem colecionando ao longo dos anos provas científicas do seu poder terapêutico. Na década de 80, após 25 anos de pesquisas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o documento Acupuncture: review and analysis of reports on controlled clinical trials, no qual expõe os resultados destes estudos. Neste estudo, que foi atualizado em 2002, é analisada a eficácia das agulhas em comparação ao tratamento convencional para mais de 200 doenças ou sintomas. Há uma lista com 41 doenças em que a técnica resolveu mais de 30% dos casos ou foi até mais efi- caz do que os remédios.
A acupuntura vem colecionando ao longo dos anos provas científicas do seu poder terapêutico. Na década de 80, após 25 anos de pesquisas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o documento Acupuncture: review and analysis of reports on controlled clinical trials, no qual expõe os resultados destes estudos. Neste estudo, que foi atualizado em 2002, é analisada a eficácia das agulhas em comparação ao tratamento convencional para mais de 200 doenças ou sintomas. Há uma lista com 41 doenças em que a técnica resolveu mais de 30% dos casos ou foi até mais efi- caz do que os remédios.
E o estudo mais recente, embora não tenha recebido o
reconhecimento dos acupunturistas brasileiros, por tratar-se de um
trabalho isolado, chama atenção para duas novidades capazes de deixar o
método ainda mais popular: um possível aumento na possibilidade de
aplicação das agulhas na medicina e a constatação de que em muitos casos
a técnica pode resolver o problema sozinha. O pesquisador Du Yuanhao,
do Centro de Pesquisa de Acupuntura Chinesa de Tianjin, garante ser
possível tratar 461 doenças, relacionadas aos sistemas nervoso,
digestivo, genitourinário, aos músculos e ossos e à pele. E que ele
conseguirá dividi-las em três categorias: as que podem ser curadas
apenas mediante a utilização da acupuntura; aquelas para as quais ela é o
tratamento principal e os males nos quais as agulhas podem só ajudar.
Em nosso país, a acupuntura é aplicada em diversas áreas. “Da
pediatria à psiquiatria e até em casos em que ela não tem indicação
absoluta, mas ajuda a melhorar o estado geral do paciente, como em
moléstias infecciosas, recuperações cirúrgicas e tratamentos de câncer”,
conta o médico Ruy Yukimatsu Tanigawa, presidente da Associação Médica
Brasileira de Acupuntura (AMBA).
As agulhadas na prática
A grande maioria dos pacientes que procura acupunturistas já peregrinou por inúmeros consultórios e tem um diagnóstico claro do problema que os aflige. Desse total, 80% quer se livrar de alguma dor. Embora seja conhecida pela eficácia em conseguir aplacála, a verdade é que a medicina chinesa é muito mais ampla. “Além da acupuntura, quando se trata em aplicação da medicina chinesa, também está se falando de uso de plantas e minerais, alimentação equilibrada e exercícios terapêuticos, como massagens”, ex pli ca o cirurgião vascular Wu Tou Kwang, um dos pioneiros no ensino da técnica no país e diretor do Centro de Estudos em Acupuntura e Terapias Alternativas (CEATA).
A grande maioria dos pacientes que procura acupunturistas já peregrinou por inúmeros consultórios e tem um diagnóstico claro do problema que os aflige. Desse total, 80% quer se livrar de alguma dor. Embora seja conhecida pela eficácia em conseguir aplacála, a verdade é que a medicina chinesa é muito mais ampla. “Além da acupuntura, quando se trata em aplicação da medicina chinesa, também está se falando de uso de plantas e minerais, alimentação equilibrada e exercícios terapêuticos, como massagens”, ex pli ca o cirurgião vascular Wu Tou Kwang, um dos pioneiros no ensino da técnica no país e diretor do Centro de Estudos em Acupuntura e Terapias Alternativas (CEATA).
Os estudos avançaram de tal forma e abrangem tantos campos que, hoje, falar só do efeito analgésico é pouco.
“O objetivo central da acupuntura é basicamente prevenir
doenças”, explica Jou El Jia, médico e professor de acupuntura da
Faculdade de Medicina de Jundiaí, de São Paulo. Além disso, a técnica
busca tratar o paciente como um todo e não como um ser dividido em
pedacinhos.
O problema é que, culturalmente, a procura por um tratamento só
ocorre quando o paciente está sentindo algo ou já ficou doente. Neste
sentido, o acupunturista pode resolver a maio ria das doenças. Em
outras, porém, pode ajudar com os sintomas. “Um paciente com câncer, por
exemplo, pode beneficiar-se da acupuntura para driblar os efeitos
colaterais da quimioterapia e também pode aumentar a sua resistência
física para o tratamento convencional, mas deve ser enviado para um
oncologista, que detém o conhecimento das mais modernas ferramentas para
acabar com a doença”, alerta Hong Jin Pai, médico da equipe de
Acupuntura do Centro de Dor do Hospital das Clínicas, de São Paulo, e
diretor de relações internacionais da Sociedade Médica Brasileira de
Acupuntura (SMBA).
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