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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Positivando as experiências

O processo evolutivo é uma realidade pertinente a todos nós seres humanos e a todas as criaturas deste universo. No uso do livre arbítrio e do atributo do raciocínio lógico vivemos, em cada experiência evolutiva, a elaboração dos estímulos que vão afetando nossa sensibilidade psíquica, provocado reações de transformação.
O fenômeno da elaboração, termo que aproveitamos da Biologia para a Psicanálise, diz respeito à capacidade de transformar as situações experienciadas em produtos de evolução. Com isso, o resultado da elaboração vai se tornando alimento do psiquismo, ampliando sua capacidade de percepção, de interpretação e de amadurecimento frente às novas situações.

Mas nós ainda não conseguimos elaborar plenamente todo o material de experiências que a vida nos oferece para digerir. Algumas vezes somos bem sucedidos e outras não.
O que tende a fazer com que uma situação seja mais dificilmente digerida é a presença de cicatrizes psíquicas passíveis de serem associadas às novas situações, que farão com que estas sejam potencializadas. Ou seja, quando um fato se sobrepõe a um trauma passado ele será mais doloroso do que outro que não tenha sentimentos de sofrimento similares antecedentes.
De alguma forma, podemos dizer que uma situação tornou-se um trauma predisponente a sensibilidades posteriores porque, na época de sua vivência, ela não foi devidamente elaborada.

Se você come e seu estômago não está apto a digerir aquele alimento você terá uma indigestão.
Se você passa por uma situação frustrante e seu psiquismo não está apto a elaborar aquela dor você terá adquirido um trauma, que pode variar de espécie e intensidade.
Mas o que pode favorecer uma melhor elaboração das frustrações? É a capacidade de positivar as experiências que vai sendo construída, aos poucos, por conta de uma melhor compreensão da vida, de seu funcionamento e do amadurecimento psíquico.
Positivar uma experiência é perceber, compreender e introjetar seu lado bom, as lições positivas que ela traz para nossa transformação. E toda experiência tem um sentido oculto, traz uma aprendizagem a ser construída; jamais duvidem disso, por pior que possa estar parecendo aquela por que você passa. O universo sempre conspira a nosso favor, mesmo quando ainda não compreendemos com clareza suas intenções.

A grande dificuldade que nos impede de aceitar esse processo educativo da vida é de ainda, muitos de nós, acreditarmos que nascemos para gozar as frivolidades do mundo e não para aprender. Não quero com isso estar condenando a busca pelo prazer, mas apontar no sentido de que temos buscado um prazer muito fugidio, que até pode ser vivido, desde que com a compreensão de sua impermanência.
Quando nos damos conta do determinismo do aprender passamos a gozar com o crescimento que as lições da vida nos proporciona, mesmo que isso envolva um certo nível de frustração.

Quem quiser aprofundar mais sobre essa idéia pode buscar outro artigo que escrevi – “O prazer de evoluir” – disponível em meu site.
Positivar uma experiência é compreender aquilo a que ela se aplica em nós. Ninguém passa por situações complexas por acaso. Todas estão ligadas a uma sincronicidade com nossos conteúdos psíquicos. Então, qualquer que ela seja, estará sempre falando um pouco sobre nós mesmos, sobre aquilo que ainda não conseguimos desenvolver para a plenitude.

Sempre algo em nós a ser trabalhado é que justifica as experiências por que passamos.
Muitas vezes a vida pretende refrear nossos impulsos imaturos, outras vezes nos está estimulando a reagir, a sair da inércia. Outras ainda nos levando a tomar consciência de traços de caráter ou sistemas de crenças enraizados que necessitamos modificar. Só que a maioria de nós, individualidades infantis, tende a reagir com rebeldia diante desse convite, que tomamos como uma imposição externa contra nossa integridade, quando, na verdade, é um direcionamento no sentido da evolução e da libertação. E o orgulho ferido, marcado pela rebeldia, faz-se necessitado de pontuações mais enérgicas que acabam sendo sentidas como dor e sofrimento.
A dor e o sofrimento não podem se tornar produtos de aprendizagem que faça avançar a individualidade, porque esse avanço aponta para a plenitude e a felicidade, estamos opostos à rebeldia e à dor. Elas apenas são estímulos para que a aprendizagem aconteça. Enquanto este ser humano sofrido com suas experiências não positivá-las, permanecerá vulnerável às novas dores educativas da vida.

João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros
“Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal”
www.joaocarvalho.com.br

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