Translate / Traduire / Traducir / übersetzen / Traduzione / 翻譯

domingo, 24 de julho de 2011

Dar atualidade ao passado

"Nas palavras e atos do passado, jaz oculto um tesouro que o homem pode utilizar para fortalecer o seu caráter.O estudo do passado não deve se limitar a um mero conhecimento da historia, mas deve, através da aplicação desse conhecimento, procurar dar atualidade ao passado."
Hex. (26) - O Poder de Domar do Grande - I Ching

Temos observado um renascimento das tradições milenares de diversas culturas em todo o mundo. Muito tem se discutido sobre o que é tradicional e milenar em detrimento do que é novo. Tradicional, neste caso, é considerado tudo aquilo que é lastreado em livros clássicos, em dogmas religiosos e na tradição oral popular. Na cultura chinesa esta dicotomia entre a "tradição" e o "novo" se agrava, porque os conceitos tradicionais da filosofia chinesa afirmam que só há a MUDANÇA como tradição. Neste processo de entendimento do que é tradicional na China, aconteceram muitos descaminhos políticos, religiosos e históricos. Este é o tema deste artigo que chamei "Dar atualidade ao Passado".
A filosofia Chinesa, sua sabedoria e suas práticas, vêm alterando a visão de mundo de milhares de pessoas atualmente, talvez por esta cultura não desprezar o cotidiano, com o seu positivo e o seu negativo.
Segundo a filosofia chinesa, a adaptação do homem aos caminhos naturais da vida, é governada por leis que regem as mudanças. O que processa estas mudanças é o Tao: o Caminho do Fácil, do Simples, das Transformações.
O conhecimento milenar chinês sofreu muitas interferências no seu desenvolvimento histórico. O maior deles aconteceu durante a invasão comunista na China, quando seu conhecimento tradicional foi censurado e reinterpretado para servir aos propósitos políticos de seu governo totalitário. O que conhecemos com o nome de Tradicional Medicina Chinesa (da qual fazem parte a Acupuntura, a Fitoterapia e recentemente o Chi Kung ou Qigong), não pode mais ser considerada como "tradicional", já que suas técnicas foram alteradas para servir a propósitos políticos. Quase todas as técnicas que ensinavam ao homem a desenvolver sua liberdade e a aumentar o seu poder pessoal (pela transformação da energia sexual) foram retiradas da Tradicional Medicina Chinesa.
Seres livres e fortes não interessam aos sistemas totalitários.
Poucos estudiosos desta área se dão conta de que na verdade estão assimilando uma arte censurada. O conhecimento de como o terapeuta vai movimentar a sua própria energia e a de seu paciente, sem o uso de instrumentos externos, está ausente deste sistema hoje chamado de Tradicional Medicina Chinesa.
Por outro lado temos as inúmeras escolas religiosas Taoístas, e seus dogmas afirmando que elas sim, possuem o conhecimento verdadeiro originado nas tradições milenares. Nestas religiões se repete em forma de ritual, o que no passado era simplesmente um procedimento cientifico de como mover energias.
Dogmas, religiões e escolas foram criadas para tentar desvendar o segredo do "simples, do fácil e mutante", enfim desvendar o segredo do TAO, a base fundamental que alicerça os conhecimentos da cultura chinesa. Como podemos ver, a "tradição religiosa" também pode denegrir e alterar o significado essencial dos caminhos simples do TAO.
Tendo situado o problema da discussão do tradicional na própria cultura chinesa, vamos ao problema ainda maior, o entendimento de tudo isto pela cultura ocidental.
Somos uma cultura com parâmetros diferentes e uma forma toda própria de ver o mundo. Nossa cultura não é pior ou melhor do que qualquer outra cultura. Temos também nossa tradição milenar de sabedoria, que se alicerça na cultura grega. Sofremos também descaminhos e perdemos o contato com a realidade natural. Muito temos que aprender com o passado, mas este aprendizado passa por uma atualização destes conhecimentos para que possamos aplicá-lo na vida moderna.
Dar atualidade ao passado requer do estudioso uma interiorização, um estudo empírico e experimental do que estes conhecimentos pregam. Somente vivenciando estes conhecimentos como estados de alma, podemos ter a certeza de que nossa releitura destes conhecimentos tradicionais está correta. Somente assim podemos em verdade dar atualidade ao passado, porque estes conhecimentos serão parte integrante daquilo que somos.
Neste nível de aprendizado, não há dogmas, nem verdades religiosas, não há escolas, culturas ou divergências entre elas e sim um estado interno que justifica e credencia pela experiência os princípios do tradicional e o atualiza a cada instante pelo movimento natural das mudanças. Esta verdade interna não pode ser contestada. Ela não entra em atrito com conhecimentos milenares de qualquer cultura, porque é como experimentar a água salgada, o seu sabor sensorial não pode ser contestado de fora e sua verdade transcende o tempo e suas limitações.
Talvez seja esta a razão do sucesso das práticas chinesas experimentais, elas não deixam espaço para discussões, religiosas ou filosóficas. Ou você as pratica, tenta e obtém a experiência ou nada pode ser dito sobre elas sem que se caia no paradoxo absoluto, criado pelo movimento das forças complementar Yin e Yang.
A integração e a superação deste paradoxo não pode ser atingida pela imitação externa de procedimentos oriundos de uma cultura que não é a nossa e sim, pela experiência de suas técnicas essenciais de movimento de energia que não estão mais dentro dos limites culturais de cada povo, que se tornaram um patrimônio da humanidade porque suas técnicas servem à raça humana e não mais a um determinado povo ou uma determinada religião.
Dar atualidade ao passado é manifestar dentro o que o passado nos deixou como legado fora.
Como escritora e instrutora do sistema prático de Alquimia Interna Taoísta, tenho dedicado os meus esforços a divulgar e ensinar aos interessados na cultura chinesa, os instrumentos internos necessários para que vivenciem estas verdades essenciais, pra que possam atualizar pela experiência o que dizem os velhos sábios chineses. Aprender a língua chinesa, repetir mecanicamente fórmulas e rituais, fazer exercícios compulsivamente, pode ser interessante e exótico, entretanto bem mais interessante é vivenciar inteiramente esta sabedoria.
Voltar-se para dentro, experimentar, abrir os olhos, ver o simples e o fácil do caminho, do Tao; isto é, e sempre será atual.

"O Tao está perto, mas os homens o procuram Longe.
O Tao é simples, mas os homens amam as dificuldades."
Frase de um sábio taoista que viveu 700 anos antes de Cristo

Por Ely Britto
http://www.healing-tao.com.br/iching/textos/passado.htm

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...