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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Os chineses e o chá

Quando você visita a casa de um amigo chinês, a primeira coisa que ele oferece é um copo quentinho de chá, mesmo nos dias de calor sufocante no verão.
Entretanto, com o processo de reforma e abertura da China nas últimas décadas, outras bebidas como Coca-Cola e Fanta, também são usadas para receber visitantes em casa, sobretudo entre os jovens. Mas, a maioria das famílias continuam mantendo o costume tradicional, oferecendo chá.

É verdade que o chá está estreitamente ligado com a vida dos chineses. Nos tempos remotos, nossos antepassados já conheciam os efeitos medicinais do chá para o homem e desde cerca de 4 mil anos atrás, o chá começou a tornar-se uma bebida do dia a dia da população. Nas dinastias Qin e Han, no início de nossa era, o cultivo e o processamento do chá obteve grande desenvolvimento e desde o primeiro século, tomar chá virou um hábito popular até hoje. Temos um ditado que diz: “Ao abrir a porta, encontra-se sete coisas: lenha, arroz, óleo, sal, molho, vinagre e chá.” Dai vemos que o chá é uma das sete coisas indispensáveis na vida diária de uma família chinesa.
Os portugueses, brasileiros ou africanos de expressão portuguesa, ao encontrar um amigo na rua, assim o convidam: “Quer tomar café lá em casa?” Mas, aqui na China, agente diz: Quer tomar chá lá em casa?
A expressão CHA YU FAN HOU, ou seja, depois do chá e da refeição, quer dizer “nas horas livres”. Quando dizemos “o escândalo é o tema principal nas conversas do povo depois do chá e da refeição”, é uma maneira de dizer que o chá é tão importante como as refeições diárias.
O chá tem uma história milenar na China. Já durante a dinastia Tang, o monge Lu Yu, que viveu entre 733 e 804 de nossa era, escreveu a obra CHA JING (Livro do Chá) dividido em três volumes. Ali ele expõe o carácter, a forma e a qualidade do chá, sua colheita e o processo de elaboração, o método de preparação da bebida, assim como os utensílios para bebê-lo. Trata-se da primeira monografia sobre o chá no mundo, pelo que saiba.
Depois da obra de Lu Yu, apareceram na China mais de uma centena de livros exclusivamente dedicados ao chá.
Segundo o tratado assinado em 1903, os Estados Unidos abririam o Canal do Panamá em 1914, ligando o Pacífico ao Atlântico. Para festejar a abertura desse importante canal de navegação, aconteceu, em 1915, na cidade do Panamá, uma feira internacional sem precedentes na história. Quatro tipos de chá enviados pela China foram premiados com medalhas de ouro de primeira categoria, de forma que o chá chinês tornou-se famoso em todo o mundo.
Um desses premiados era o Chá Verde do Macaco. Não é um nome esquisito? Vem de uma história interessante. O chá verde do macaco produzia-se, aliás, produz-se também agora, na Montanha Fénix, rodeada por três aldeias, na Província de Anhui, Leste da China. A montanha é tão íngreme que nenhum homem conseguia subir e só se via macacos divertindo-se lá em cima. Os aldeões sentiam um aroma encantador que chegavam com o vento, mas não sabiam o que era. Com o tempo, eles perceberam o cheiro das plantas de chá que cresciam no topo da montanha. Então, os aldeões mais inteligentes passaram a treinar os macacos, ensinando-lhes a colher chá. Na primavera, estação propícia à colheita, os macacos adestrados, com cestos ou bolsas, subiam com ligeireza à montanha, e voltavam às aldeias com cestos ou bolsas cheias de folhas tenras de chá com um aroma formidável. Eis a origem do nome esquisito “chá verde do macaco”.
O chá faz parte das 7 coisas importantes da vida na China. Mas, algumas vezes, a falta de chá em casa causa situação de dilema:
Certo dia, um casal recebeu em casa a visita de um amigo, mas o chá havia acabado. A dona de casa mandou o seu menino pedir um pouco de chá ao vizinho. O menino saiu, mas passado bastante tempo, não voltou. A água na panela começou a ferver. Queira saber, ouvinte? Antigamente, usava-se um tipo de panela grande de ferro no forno com lenha. A dona colocou mais água fria na panela e continuava colocando lenha no forno. Mais tempo passou e o menino, nem sombra. Sem remédio, a dona colocou mais água fria na panela e mais lenha no forno. Meia hora passada, a panela estava cheia e não apareceu nem o menino nem o chá. Então, a mulher disse ao marido: Nosso amigo não é pessoa estranha. Seria melhor convidar-lo a tomar um banho?”
O chá desempenha importante papel na sociedade chinesa com profundas raízes nas diversas camadas sociais e na cultura do povo.
O imperador Qian Long, da dinastia Qing (1644–1911), batizou um tipo de chá como o “Poço do Dragão”, e o determinou como o chá de uso exclusivo da Corte. Até hoje, continua sendo o melhor chá verde na China. Outro, também verde, Bi Luo Chun, foi batizado pelo imperador Kangxi. Nas diversas dinastias chinesas, havia os de uso exclusivo da corte, proibindo os mandarins e o povo de usá-los. Aqui, ele possuía o ar de nobreza.
Os intelectuais da antigüidade chinesa gostavam de chá, pois, tomando-o, compunham ou cantavam poemas, comentavam as diversas escolas literárias ou filosóficas. Aqui o chá exalta a tranqüilidade e a elegância no espírito dos literatos, afastados do dia a dia do mundo temporal.
Tomar chá foi ainda um costume da cerimônia de noivado e na mediação de litígios entre vizinhos. E hoje em dia, tomar chá faz parte da confraternização durante as principais festas tradicionais na China. Na história, o chá chegou a ser usado como moeda em determinados períodos e determinadas regiões. Desde o início da dinastia Tang, o governo abria mercados nas fronteiras, trocando cavalos de outros reinos por chá, eis porque era conhecidos como “feiras de chá e de cavalo” nos registros históricos.
Por vias terrestres e marítimas, o chá chinês foi exportado para outros países, inicialmente para o Japão e a Coréia, em seguida para a Índia e os países da Ásia Central. Nas últimas dinastias Ming e Qing, o chá chinês chegou à Península Arábica e, no século XVII, entrou na Europa onde deu origem ao hábito de tomar chá entre os nobres do Velho Continente. Pelo seu valor comercial, o chá era a moeda de ligação, contribuindo para o intercâmbio entre a China e outros países.
Há uma história interessante. O poeta Su Shi, famoso na história da literatura, que viveu entre os anos 1037 e 1101, gostava de visitar templos e montanhas pitorescas. Gozava de elevadíssimo prestígio entre os literatos. Quando era governador de uma região, ele foi visitar um templo cujo monge-mor só lhe disse: “Sente-se” e voltou-se para o criado: “Chá.” Com um pouco tempo de conversa, o monge-mor percebeu a elegância da linguagem do visitante, então lhe disse: “Por favor, sente-se.” E voltou-se para o criado: “Ofereça chá.” Tendo perguntado o nome do visitante, o monge soube tratar-se do tão famoso poeta e, com um sorriso bajulador, disse-lhe com todo o respeito: “Por favor, sente-se aqui, na cadeira de honra.” E voltou-se novamente para o criado: “Ofereça chá perfumado.”
Quando o monge pediu uma obra caligráfica ao famoso poeta e governador, este, sem hesitação, pegou o pincel e deixou estes caracteres:
“Sente-se, por favor sente-se, por favor sente-se na cadeira de honra;
Chá, ofereça chá, ofereça chá perfumado.”
O monge-mor ficou vermelho de vergonha.
Esta história ficou muito popular e continua sendo usada até hoje, para satirizar o esnobismo de certas pessoas. 

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