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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Canais de Energia ou Meridianos: manipulação energética


Resumo:
Este texto foi produzido a partir da apresentação de seminário, em 02 de julho de 2011, no Instituto de Psicologia e Acupuntura – Espaço Consciência, pela Turma XII. O objetivo da apresentação foi elucidar a cerca da Teoria dos Meridianos a partir da perspectiva da manipulação energética. A concepção tradicional sobre o tema e a fisiologia dos meridianos foi valorizada. Não houve interesse em descrever sobre anatomia ou a localização dos pontos de acupuntura, porque estes conteúdos podem ser facilmente encontrados na vasta literatura sobre o assunto.

Introdução
Os conhecimentos da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) desenvolveram-se sobre as mesmas bases da Tradição Chinesa a respeito do universo. A observação e contemplação da natureza foi o método utilizado pelos antigos chineses para compreenderem que tudo o que existe é constituído por uma só energia  que denominaram Chi.
A energia Chi pode manifestar-se de forma sutil – como por exemplo, a luz e o calor – ou de modo denso, concreto – como a terra e os corpos que nela existem. Estas duas manifestações foram nomeadas pelos filósofos chineses de Iang e Inn, respectivamente.
Percebe-se, a partir da observação de suas qualidades, que são opostas. Porém, como ambas se originam de uma só energia, também transformam-se continuamente uma na outra, num perpétuo movimento cíclico. A Tradição ensina, portanto, que Iang e Inn relacionam-se entre si pela oposição e pela complementaridade.
A energia Iang origina-se no alto, no céu, e se movimenta em direção à terra, influenciando-a. A energia Inn, provém da terra e se dirige ao céu, exercendo seus efeitos sobre ele. No meio desse fluxo energético está o ser humano. Constituído por Iang e Inn,  o corpo humano aproveita estas energias para manter-se vivo e saudável. Mas, como pode captá-las e distribuí-las por todo o seu organismo? A Teoria dos Canais de Energia, também chamada dos Meridianos, busca explicar esse fenômeno.

Os Grandes Meridianos
Contemplando a natureza, os antigos chineses observaram que os rios transportam as águas organizadamente de sua nascente até o mar. Por onde passam os rios, a vida floresce . Analogamente, o corpo humano, teria então, seus “rios” – os Grandes Meridianos -  nos quais correm as energias para nutrir e defender o organismo.
Há seis Grandes Meridianos – Tae Iang, Chao Iang e Iang Ming – que transportam a energia Iang dos dedos das mãos aos artelhos, depois penetrando na terra e outros três – Tae InnChao Inn e Tsiue Inn – que levam a energia Inn dos pés às pontas dos dedos das mãos, e segue seu trajeto rumo ao céu.

Os Meridianos Principais
Cada um dos seis Grandes Meridianos se dividem em duas partes denominadas Chou (“da mão”) e Tsou (“do pé”). Portanto, existem doze (12) Meridianos Principais. Todos são bilaterais e possuem um trajeto superficial e um trajeto profundo. O trajeto profundo de cada um nutre um dos seis (6) órgãos (zang)[1] ou uma das seis (6) vísceras (Fu)[2][3]. É, exatamente, por esta relação que cada meridiano principal recebe seu nome. Por exemplo: a parte inferior do Tsiue Inn, associada ao pé, nutre o Fígado (F). Então, ele é chamado pela tradição de ‘Tsou Tsiue Inn’ (MORANT, 1990, p. 986) ou ‘Tsiue Inn do Pé’. Ocidentalmente, é denominado Meridiano Principal do Fígado.
Assim, os doze (12) meridianos principais são: Pulmão (P), Intestino Grosso (IG), Estômago (E), Baço-Pâncreas (BP), Coração (C), Intestino Delgado (ID), Bexiga (B), Rim (R), Circulação-Sexualidade (CS), Triplo Reaquecedor (TR), Vesícula Biliar (VB) e Fígado (F)[4].
A observação da geografia de um rio pode nos ajuda a compreender como os meridianos são importantes para a acupuntura. Os rios, em geral, apresentam locais onde o acesso às águas é mais fácil e são usados por animais e pessoas para sua subsistência. Possuem comumente uma nascente, corredeiras e/ou quedas d’água, além de pequenos lagos onde as águas se avolumam e fluem mais lentamente. Muitos também dividem-se em braços e alguns deles penetram na terra por meio de grutas. Mais tarde, suas águas ressurgem na superfície para prosseguirem rumo ao mar.
Os pontos de acupuntura localizam-se nos meridianos e, em geral, permitem o acesso das energias do ambiente à energia do organismo. Esse acesso tem a função de ajudar o organismo a manter-se equilibrado, por exemplo, de acordo com cada estação climática. Van Nghi (1981, p.13) descreve os pontos de acupuntura como estando “sempre situados no fundo de pequenas cúpulas, depressões pelas quais a energia dos meridianos, das vísceras e dos órgãos, sempre em movimento, chegam a parte exterior do corpo” (Tradução nossa).

Os Pontos Su Antigos
Apesar dos pontos de acupuntura terem muitas semelhanças entre si, também apresentam diferenças significativas. Alguns, na verdade, sessenta e seis deles, prestam-se a possibilidade da  manipulação energética, a chamada “arte da manipulação”. Ao utilizá-los, o acupunturista é capaz de manipular o fluxo, a ‘velocidade’, a intensidade, a direção, a quantidade e a qualidade da energia nos meridianos. Estes são os chamados pontos Su Antigos que se encontram sempre nos meridianos principais, na porção que se estende dos artelhos aos joelhos e dos dedos das mãos aos cotovelos:
  • Tsing (Ting)Poço ou Nascente: são pontos de partida ou de chegada da energia (VAN NGHI, 1981) (Tradução nossa). Situam-se nas extremidades dos dedos das mãos e dos artelhos nos ângulos ungueais, exceto para o meridiano do Rim, cujo ponto Tsing encontra-se na face plantar do pé. De acordo com a técnica aplicada ao punturá-los, pode-se ampliar a penetração ou a saída da energia.
  • Iong: “Riacho” (VAN NGHI, 1981, p.26), “declive da água”(CORDEIRO, CORDEIRO, 2009, p.61): aceleram o fluxo da energia do mesmo modo que uma cachoeira faz com a água de um rio. São os segundos ou penúltimos pontos contados a partir da extremidade de cada meridiano. Localizam-se “nas articulações falangianas” (CORDEIRO, CORDEIRO, 2009, p.61).
  • Iu: “Assentamento – ‘o que dirige’ – riacho, embarcação, o que transporta”: Silva (2011) os descreve usando a metáfora de um lago. Neles, a energia permanece por um pouco, antes de prosseguir seu curso. Portanto, facilitam o ‘embarque’ de energia no meridiano. Contudo, são também os locais mais fáceis de ‘desembarcá-la’. Então, são úteis terapeuticamente para retirar alguma energia perversa[5] que tenha penetrado no meridiano. São os terceiros ou antepenúltimos, a partir das extremidades, com exceção do Meridiano Principal VB, em que é o quarto ponto. “Situam-se nos metacarpos e nos metatarsos” (CORDEIRO, CORDEIRO, 2009, p.61).
  • Iuann (Iunn): Origem: restabelece a ordem por atrair a energia em excesso do meridiano principal acoplado. Apenas as funções Iang o possuem. As funções Inn usam o ponto Iu como ‘origem’.
É digno de nota que Silva (2011) os compare, também, com um lago. Por conseguinte, as funções Iangteriam dois (2) ‘lagos de energia’. No entanto, é importante atentar para as diferenças já apontadas entre os pontos Iu e os pontos Iuann.
  • Tsing (King): desvio, desembarque, “o que faz circular” (MORANT, 1990, p.186). A partir desse ponto, a energia concentra-se. Nele, ela “pode ser perturbada, desviada ou ‘desembarcada’ para outro local” próximo (CORDEIRO, CORDEIRO, 2009) como “ossos, músculos ou outros meridianos” (VAN NGHI, 1981, p.31). A energia de defesa é mobilizada pela estimulação deste ponto. Localizam-se nos pulsos e tornozelos.
Nas funções Inn, este ponto é o mais calibroso, sendo então, o local mais fácil para a energia se aprofundar em direção aos órgãos. Já, nas funções Iang, é muito difícil a energia aprofundar-se por esta via.
  • Ro (Ho): Reunião, desvio profundo ou longo (SILVA, 2011): onde a energia aprofunda ou emerge, unindo o interior e o exterior (CORDEIRO, CORDEIRO, 2009). “Punturá-los é atuar sobre o que está profundo” (VAN NGHI, 1981, p.31) (Tradução nossa). Localizam-se ao redor dos cotovelos e joelhos. A partir deste ponto, a energia estabiliza-se – como se tivesse chegado ao mar – e manipulá-la torna-se difícil.
Nas funções Iang, ele é o mais calibroso e por isso é o caminho preferencial para o  aprofundamento da energia em direção às vísceras. No caso das funções Inn, é difícil para a energia penetrar por esse ponto, mas é possível.

Os Pontos de Comando
Há outros pontos nos meridianos principais chamados ‘de comando’ que são importantes porque produzem ações específicas sobre os órgãos e vísceras com os quais se relacionam. São denominados:
  • Tonificação: fortalecem a energia dos sistemas com os quais se relacionam;
  • Sedação inibem a energia dos sistemas com os quais se relacionam por dispersá-la;
  • Fonte: tonificam ou sedam as funções com as quais se relacionam. Morant (1990) os define como pontos de função reguladora porque devolvem ao funcionamento normal os sistemas dos quais fazem parte. São capazes de realizarem essa função, pois conectam-se com o ponto Lo do meridiano acoplado. Do meridiano acoplado podem captar energia em excesso ou podem ceder energia se houver deficiência. São os pontos Iu(Su Antigos) para os meridianos Inn e para os Iang são os Iuann (Iunn) (MORANT, 1990).
  • Lo (de Passagem): transferem energia de uma função Inn para uma Iang ou de uma função Iang para uma Inn. Existe um (1) para cada meridiano principal, para o Vaso Governador (VG) e para o Vaso Concepção (VC). Há também, um Grande Lo (BP 21) que se comunica com todos os demais pontos Lo. A técnica básica para utilizá-los é punturar o ponto Lo do meridiano que tem mais energia, visando transferí-la para o meridiano débil energeticamente. Todavia, é possível punturar o ponto Lo do meridiano débil e forçar um contra-fluxo da energia em sua direção (SILVA, 2011).
  • Assentamento ou Assentimento (Iu dorsais): podem ser usados como auxiliares da tonificação e da sedação (SUSSMANN, 2007). São pontos que ‘acalmam’ as funções, segundo Morant (1990). Este autor os descreveu como os pontos que tem função dispersora da energia. Corroborando esta afirmação, Silva (2011) os descreveu como auxiliares da sedação. Sussmann (2007) afirma que são muito úteis em afecções de evolução crônica. Todavia, o tratamento não deve se limitar ao seu uso. Localizam-se no meridiano da Bexiga, no seu trajeto paravertebral interno. Niboyet (apud SUSSMANN, 2007) relata haver também pontos de ‘assentamento independentes’ (Tradução nossa). Uma parte se localiza no Meridiano Principal da Bexiga e outra parte em outros meridianos. Os pontos de assentamento independentes atuam em zonas próximas ao nome que possuem e tem uma ação limitada. Por exemplo: o IG 15 chama-se ‘Meio do ombro’ e sua atuação se dá no ombro, pescoço, cabeça e membro superior ipsilateral (SUSSMANN, 2007).
  • Mo (de Alarme ou Arauto): tornam-se especialmente dolorosos quando suas respectivas funções encontram-se desequilibradas. Morant (1990) os indica quando há insuficiência das funções com as quais se ligam. Nesse mesmo sentido, Silva (2011) afirma que são auxiliares da tonificação. São muito utilizados em afecções agudas e dolorosas.

Vaso Concepção e Vaso Governador
Dois meridianos, no entanto, merecem atenção especial por serem diferentes dos Meridianos Principais e comumente serem classificados, equivocadamente, entre os Oito Vasos Maravilhosos[6]: o Vaso Concepção (VC) e o Vaso Governador (VG).
Algumas são as semelhanças com os meridianos principais: transportam Chi - o VC é de natureza Inn e o VG,Iang; o fluxo de energia é constante e juntos formam a chamada Pequena Circulação de energia, apesar de não se comunicarem entre si, mas terminarem próximos, na região da boca.
As diferenças são: não possuem pontos Su Antigos e nem pontos de comando próprios; não se ligam a nenhum órgão ou víscera; acumulam as energias Inn (VC) e Iang (VG) em excesso na Grande Circulação para  liberá-las em caso de insuficiência. Por isso, o VC é chamado de ‘Mar dos Inn’ e o VG, ‘Mar dos Iang’.
O VC “atua sobre a respiração, a digestão e as funções gênito-urinárias” (Borsarello apud SILVA, 2011). Possui características femininas em função da predominância de energia Inn, o que justifica se relacionar com o nascimento e o crescimento.
O VG, por ter muita energia Iang, possui características masculinas. “Tonifica a força física, psíquica e moral…” (Borsarello apud SILVA, 2011). “[Tem] o controle e direção do vigor e da ação, corresponde à força física e mental” (MORANT apud SILVA, 2011). Compreende-se portanto, porque Sussmann (2007, p.252) afirma que ele possui “estreita relação com o sistema nervoso central” (Tradução nossa).

Aplicação da Teoria dos Meridianos
Para elucidarmos acerca da aplicação da Teoria dos Meridianos trabalharemos com um exemplo: suponha que uma energia perversa tenha invadido o Meridiano Principal do Fígado, na altura do  segundo metatarso. O paciente refere sentir um calor intenso que lhe dificulta o uso de calçados. A observação e a palpação confirmam a presença de uma energia perversa do tipo Calor. Utilizando somente os conhecimentos da manipulação energética, da Teoria dos Meridianos, é possível realizar uma intervenção eficaz sobre o problema. O ponto F3 (Iu) pode ser punturado e, para reforçar seu efeito, aplica-se uma técnica de sedação. Também, é viável ‘drená-lo’ usando a técnica de raspagem do cabo da agulha de baixo para cima descrita por Focks e März (2008). A fim de tornar, ainda mais eficaz, a intervenção, podemos associar os conceitos da Teoria dos Cinco Elementos. Neste caso, puntura-se o ponto F8 - Ho – elemento água; energia associada: Frio – usando uma técnica de tonificação para aumentar o controle que a energia Frio exerce naturalmente sobre a energia Calor.

Conclusão
Compreender com profundidade a Teoria dos Meridianos, principalmente sua fisiologia energética, permite ao acupunturista exercer com arte a sua técnica. A manipulação energética é uma forma privilegiada de se alcançar o objetivo de praticar a ‘Grande Acupuntura’ – que visa o reequilíbrio energético do ser humano a fim de restaurar-lhe a saúde e preservá-la a longo prazo.

Autores do seminário – Turma XII:

Aline Marino; Ana Paula Bizarria; Andréa Corrêa; Camila T.B. Keller; Daniella Stazack; Flávia Vitali; Geneide B.G.; Ivanilza Ribeiro; Luis Liendo R.N. Donadelli; Marco Túlio Freire; Maria Lúcia S. Falcão; Maria Luisa C. Góes; Priscilla Madrigal e Silene Massari
Relator: Marco Túlio Freire
Orientador: Prof. Especialista Delvo Ferraz da Silva

REFERÊNCIAS
BING, W. Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo. São Paulo: Ícone, 2001. 829 p.
CORDEIRO, A.T.; CORDEIRO, R.C. Acupuntura: elementos básicos. 4a ed. São Paulo: Editora Polis, 2009. 143 p.
FOCKS, C.; MÄRZ, U. Guia prático de acupuntura: localização de pontos e técnicas de punção. Barueri: Manole, 2008. 697p.
MORANT,  G. S. Acupuntura. Buenos Aires: Panamericana, 1990. 1137 p.
SHEN-NONG LTDA. Hong Kong. s.d. Disponível em: <http://www.shen-nong.com/ eng/front/index.html>. Acesso em: 24 jun. 2011.
SILVA, D. F. Meridianos e Canais de Energia. In: Instituto de Psicologia e Acupuntura Espaço Consciência. São Paulo. Anotações de Marco Túlio Freire sobre a aula. Material não publicado. 2011.
SUSSMANN, D. J. Acupuntura Teoria y Practica8 ed. Buenos Aires: Kier. 2007, 416 p.
TYMOWSKY, J-C de; et al. A acupuntura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. 107 p.
VAN NGHI, N. Patogenia y Patologia energéticas em medicina china: tratamento por acupuntura y masajes. Madrid: editora Cabal, volume II, 1981.


[1]    Fígado, Coração, Circulação-sexualidade, Baço-Pâncreas, Pulmão e Rim. Todos de natureza Inn.
[2]    Intestino Grosso, Bexiga, Vesícula Biliar, Intestino Delgado, Triplo Reaquecedor e Estômago. Todos de natureza Iang.
[3]    Apenas esta relação já ajuda a compreender como um estímulo superficial, como punturar um ponto de acupuntura na pele, pode afetar os órgãos e vísceras.
[4]    Esta lista está organizada segundo a ordem da Grande Circulação de energia (SUSSMANN, 2007).
[5]    Este é um tema amplo que merece um estudo a parte. Para o momento basta saber que existem seis (6) energias: Vento, Calor, Fogo, Umidade, Secura e Frio. Relacionam-se entre si segundo os ciclos de geração e de inibição da Teoria dos Cinco Elementos. São naturais e apenas se tornam perversas quando estão em desequilíbrio.
[6]    O tema ‘Vasos Maravilhosos’ é vasto e profundo. Para os objetivos deste texto não é necessário estudá-lo.

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