Somos aquilo que comemos; a frase é velha e não apresenta nenhuma idéia surpreendente, afinal o funcionamento do nosso corpo depende dos alimentos com os quais o nutrimos. Para que o organismo seja saudável, deve receber diariamente os nutrientes dos quais necessita para que todos os sistemas do corpo funcionem em harmonia e o sistema imunológico seja forte o suficiente para combater doenças. Assim fica fácil concordar que a saúde depende, antes de qualquer coisa, dos alimentos com os quais nutrimos nosso corpo. Mas o inverso também é verdadeiro, e muitas doenças são causadas pela alimentação inadequada: o consumo excessivo de sal pode elevar a pressão, o abuso de doces pode leva à diabetes e a ingestão excessiva de alimentos pode acarretar na obesidade.
Isto porque os alimentos contém substâncias que determinam o funcionamento dos órgãos e sistemas do corpo, e podem interferir diretamente no processo através do qual uma doença se instala no organismo.
Da mesma forma que determinados tipos de alimento influenciam negativamente no funcionamento do corpo, podem influenciar também positivamente na recuperação de doenças e de desarmonias que possam existir no organismo. Foi em função deste raciocínio e da observação dos efeitos do consumo de determinados alimentos que os médicos chineses sempre deram muita importância ao papel da alimentação na prática da Medicina Chinesa.
O papel do alimento no estabelecimento da qualidade da energia geral do organismo, chamada pelos chineses de Qi, é tão grande que o próprio ideograma da palavra Qi contém elementos correspondentes ao arroz, elemento integrante da alimentação típica chinesa. Ao longo de milênios a alimentação foi sendo levada em consideração no desenvolvimento das escolas teórias da Medicina Chinesa: existem alimentos de característica mais Yin, outros de conotação mais Yang. De acordo com a Escola dos Cinco Elementos, Água, Madeira, Fogo, Terra e Metal possuem sabores específicos associados (Salgado, Azedo, Amargo, Doce e Picante, respectivamente).
Mais tarde, com a Escola dos Zang Fu, os órgãos e sistemas do corpo foram associados a este raciocínio: cada sistema é nutrido por um determinado tipo de sabor, o que significa dizer que o Salgado irá influenciar o funcionamento do elemento Água (representado pelo Rim e pela Bexiga), o Azedo irá influenciar Madeira (Figado e Vesícula Biliar), o Amargo irá agir sobre Fogo (Coração e Intestino Delgado), o Doce irá influenciar Terra (Baço e Estômago) e, por fim, o sabor Picante está relacionado ao Metal (Pulmão e Intestino Grosso).
Com o desenvolvimento da Cromoterapia Chinesa, que define o papel que as cores assumem no funcionamento do corpo e de seus órgãos e vísceras, a coloração dos alimentos ingeridos também é de fundamental importância. Ainda de acordo com os Cinco Elementos, cada elemento corresponde não apenas à um Sabor, mas também a uma Cor. O Preto corresponde a Água, o Verde corresponde a Madeira, o Vermelho ao Fogo, o Amarelo à Terra e, por fim, o branco corresponde ao Metal. Isto significa dizer que alimentos de cor preta (ex: feijão preto) nutrem os Rins, os de cor Verde (ex: limão) nutrem o Fígado, os de cor Vermelha (ex: ameixas) nutrem o Coração, os de cor Amarela (ex: batata) nutrem o Baço e os de cor Branca (ex: alho, cebola) nutrem o Pulmão. Curiosamente, levando-se em consideração o que já foi dito até agora, as Cores e Sabores acabam coincidindo muitas vezes: cebola e alho são considerados Picantes, o limão é Azedo, etc.
O consumo ou a restrição do consumo dos Sabores vai depender do tipo de desarmonia envolvida: nos casos em que há deficiência os Sabores e Cores são indicados para fortalecer determinados órgãos; quando houver excessos, serão utilizados de modo restritivo, a fim de conter o funcionamento do órgão.
Ainda de acordo com a Escola dos Cinco Elementos, um elemento nutre um elemento e controla outro. A Figura 1 mostra como estas relações se dão. O conhecimento acerca das relações de nutrição e controle existentes entre os elementos são fundamentais no momento de definir os alimentos mais indicados e os contra-indicados de acordo com cada patologia. Entretanto, estas recomendações só poderão ser feitas a partir do estabelecimento de um diagnóstico, que determinará se um sistema está em excesso ou em insuficiência. Este diagnóstico é feito pelo médico chinês, treinado para desenvolver o raciocínio clínico adequado de modo a estebelecer excessos e deficiências. Vale lembrar que o diagnóstico em MTC não corresponde ao diagnóstico em Medicina Ocidental (MO), e que nem sempre excessos e deficiências são compreendidos da mesma forma na MTC e MO.
Natureza e Sabor dos Alimentos
Natureza e Sabor dos alimentos são as principais propriedades levadas em consideração na aplicação da Dietoterapia Chinesa. Os Sabores já foram citados anteriormente: Salgado, Azedo, Amargo, Doce e Picante. Já a Natureza se refere mais à temperatura do alimento. De acordo com a MTC são cinco as Naturezas dos alimentos: Gelada, Fria, Neutra, Morna e Quente. Vale lembrar que a Natureza não se refere à temperatura exata do alimento no momento em que ele é consumido. Por exemplo, quando diz-se que a Hortelã e os Azeites em geral possuem Natureza Fria, isto independe se a Hortelã for consumida sob a forma de chá ou sorvete ou se o Azeite for usado à temperatura ambiente em uma salada ou aquecido no preparo de algum prato.
Se por um lado os Sabores estão relacionados aos Cinco Elementos e diretamente aos órgãos e sistemas do corpo, a Natureza dos elementos está mais ligada ao equilíbrio entre duas forças que estão presentes em tudo na Natureza: o Yin e o Yang. De acordo com a MTC, Yin e Yang devem estar em harmonia, mutuamente controlando-se e um dando origem ao outro, como acontece na alternância entre dia e noite na natureza.
Em linhas gerais pode-se dizer que as temperaturas mais baixas estão relacionadas ao Yin, enquanto as mais altas se relacionam com o Yang. Yin e Yang estão presentes em todos os sistemas, órgãos e substâncias do organismo, e caso entrem em desarmonia as doenças aparecerão. Como Yin e Yang são mutuamente dependentes, e a harmonia entre eles depende de uma relação mútua de controle, sempre que um entrar em deficiência ou excesso irá atngir o outro. Assim, caso Yang esteja excessivo irá consumir Yin, como por exemplo uma febre que consome os líquidos do corpo através da sudorese excessiva. Da mesma forma, quando Yin estiver em excesso haverá um consumo exagerado de Yang. O contrário também é verdadeiro: caso Yang esteja em deficiência, ele será insuficiente para conter o aumento do Yin, e vice-versa quando Yin estiver em deficiência. O excesso ou a insuficiência de Yin e Yang também devem ser levados em consideração no estabelecimento do diagnóstico, bem como na recomendação ou restrição de alimentos de determinadas Naturezas.
Outro fator que deve ser levado em consideração é a época do ano e a estação vigente no calendário. As estações do ano trazem alterações de temperatura, secura e umidade que influenciam no funcionamento dos sistemas do corpo e que deverão ser levados em consideração no estabelecimento de um planejamento alimentar. No Verão, por exemplo, estação durante a qual a temperatura aumenta em função da órbita da Terra em torno do Sol, pode ser que o elemento Fogo se torne hiperativo, o que demandará o consumo de alimentos de Natureza fria e gelada maior e mais frequente. Já no Inverno a ingestão de alimentos de Natureza Morna e Quente pode ser mais aconselhada do que o seria em uma outra época do ano.
A Dietoterapia Chinesa pode, ainda, se utilizar da combinação entre determinados alimentos, levando em consideração as relações de fortalecimento e assistência mútua, incompatibilidade e desintoxicação, inibição ou antagonismo. Estas relações serão levadas em consideração pelo médico chinês no momento de indicar um determinado alimento ou o preparo de uma receita específica.
Fonte: http://www.acupunturaemoxa.com.br/
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